quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

INDOMIT COSTA ESMERALDA ULTRA-TRAIL 2015

A prova mais difícil que já fiz.
Minha primeira Ultramaratona.
"No km 40, pensei que estava morto
 No km 45, desejei estar morto
 No km 48, senti que estava morto
 No km 50, vi que havia me tornado forte demais para morrer". (Eduardo Keller)

Comecei meu relato compartilhando as palavras de um atleta que completou os 50 km em 2014.
Acredito que a mensagem simbolize todo sofrimento de uma ultramaratona.
Quando me perguntam como foi possível, não sei responder. Somos como máquinas programadas para executar uma tarefa e, se tudo der certo, você só vai parar quando chegar no fim.
Em nenhum momento pensei em desistir, mas por algumas vezes precisei segurar as lágrimas. Lágrimas de emoção por descobrir que ultramaratona nada mais é que um processo único de autoconhecimento...
A prova, que está em sua segunda edição, aconteceu no dia 07/11 nos municípios de Bombinhas e Porto Belo e contou com as distâncias de 100 km/ 80 km/ 50 km/ 21 km/ 12 km/ 5 km.
As largadas aconteceram em sequência, iniciando em Porto Belo às 00h. Foram seis largadas no decorrer do dia em diferentes pontos. Essas largadas em onda estavam sempre interligados, desta forma os atletas se encontravam e se dirigiam para uma única chegada em Porto Belo/SC, transformando o percurso em uma festa colorida regada a muita adrenalina e animação.

A entrega dos kits aconteceu nos dias 05 e 06/11 no Hotel Atlântico em Mariscal (Bombinhas).
Os congressos técnicos foram divididos por distâncias e aconteceram em horários diferentes, no dia 06/11. A premiação por sua vez, aconteceu no dia 08/11 no mesmo local da entrega dos kits.

A ideia de participar da Ultramaratona surgiu depois que completei minha primeira maratona (asfalto) em agosto deste ano, Maratona Internacional Caixa de Santa Catarina.
Tive uma experiência positiva, o que me deixou confiante e cheia de entusiasmo. Comecei a fazer os cálculos, levando em consideração a diferença do asfalto para montanha. A ideia foi ganhando força e amadurecendo lentamente até que, através do apoio fundamental de Danilo Pinheiro de Bombinhas/SC, meu sonho se tornou realidade num piscar de olhos...

A largada dos 50 km aconteceu às 8h em Sertão de Santa Luzia (Porto Belo). Eu e Denise Ventura, saímos juntas de casa e éramos pura ansiedade. Lá encontramos Ana Clara e Gabriela Azevedo, entre outros conhecidos. Iniciamos a prova todas juntas, papeando, correndo em um ritmo confortável e aquecendo o corpo. Mas a vida fácil não durou muito tempo, após alguns kms de terreno plano chegamos ao pé do primeiro morro e já teve que ser na caminhada...

Era certo que encontraríamos as trilhas em péssimas condições devido as chuvas das últimas semanas em nossa região. A expectativa era grande e as informações que chegavam só aumentavam nossa ansiedade. A situação de fato era delicada, tanto que a organização entrou com plano B, modificando alguns trechos de algumas distâncias, tudo para garantir a segurança dos atletas. Falando em segurança, preciso destacar o trabalho dos staffs, que muitas vezes se encontravam em lugares de difícil acesso, se mantendo ali por horas e horas sem perder o entusiasmo. Parabéns, galera!!

Iniciamos as trilhas. Neste momento apenas eu e Denise continuávamos juntas. Foram muitos trechos dentro da mata, paisagens incríveis, muita, mas muita lama. Muitas subidas. E foi em uma dessas subidas que encontramos Tatiana Fernandes, amiga querida que também teve papel importantíssimo nesta minha experiência. Seguimos então as três, dando risada, fofocando e curtindo.
Cada passagem pelos postos de abastecimentos era um momento de renovação. Fartura. Praticamente um piquenique. Sopa, torta salgada, amendoim, biscoito doce, água de cocô, água, coca-cola, isotônico, batata-frita, frutas... e isso é apenas o que lembro. Sensacional!!

Depois de muita trilha e lama, chegamos na praia de Zimbros. Atravessamos riachos onde pudemos tirar o excesso de lama dos tênis. Logo depois chegamos na Praia do Canto Grande, a maré estava alta e os pés afundavam na areia fofa. Passei a sentir cansaço devido ao esforço nas trilhas e o joelho machucado começou a se manifestar. Foi aí que pedi que as meninas seguissem sem mim, ficamos juntas até onde deu, mas era hora de cada uma seguir seu caminho... Não foi fácil vê-las se afastando. Fiquei com medo de me abalar psicologicamente, mas felizmente em nenhum momento pensei no pior, continuei firme intercalando caminhada e corrida até concluir aquele trecho desgastante de praia...

Trecho de praia concluída, seguimos por uma rua de calçamento e caímos na praia de Mariscal. Mais uma extensão longa de praia pela frente... Consegui correr com mais tranquilidade já que a areia era batida e o chão mais firme. Ao fim da praia tinha um posto de abastecimento, local que reencontrei com Tati. Depois de comer e hidratar retornamos juntas. Denise já havia deitado o cabelo...

Fiz a prova com tênis de asfalto e tive bastante dificuldade nas trilhas por conta da lama. Precisei fazer muita força para me equilibrar e não cair, mesmo assim foram alguns tombos e escorregões. Não sabia até onde minhas panturrilhas aguentariam e não demorou para os temidos repuxos começarem, percebi que não seria fácil completar a prova.

Na mochila carreguei tudo que achei que pudesse precisar. Mas durante a prova fui adiando a hora de parar. Na realidade o que não está ao nosso alcance no momento, fica esquecido ou deixado de lado...


Saindo de Mariscal seguimos a jornada em direção à praia de Quatro Ilhas. Hora de encarar o morro que liga as duas praias. Subida forte com terreno asfaltado. O sol estava fritando e o calor judiando dos atletas.
Depois da passagem por Quatro Ilhas, chegamos na praia de Bombinhas. Momento emocionante, pois fomos recepcionadas pelas pessoas com aplausos e palavras de incentivadas, inclusive pelas crianças, que vibravam com nossa passagem. Estar ali significava mais de 40 km percorridos.
Chegamos enfim na Praia de Bombas. Combinamos de correr até o posto de abastecimento que estava montada no fim da praia. Ali ficamos sabendo que viria mais uma trilha. Trilha do morro do Araçá.
No início da trilha já era preciso escalar as pedras, subida íngreme e com muita lama. A lama do mundo todo estava exatamente ali. Minhas panturrilhas gritavam, ameaçando travar a qualquer momento.

Saindo da trilha iniciamos um trecho de estrada de chão que mesclava subidas e descidas. Tati já conhecia essa parte do percurso e seguia relatando o que encontraríamos pela frente. Minha fisionomia estava abatida e a vontade de caminhar só aumentava.
Chegamos finalmente no último posto de abastecimento, já em Porto Belo. Apenas 6 km nos separavam da linha de chegada. Agora seria apenas asfalto com sobe e desce. Acredito que se Tati não estivesse comigo eu tivesse caminhado mais, mas diante de seu incentivo, seguíamos correndo.
Enfim avistamos a Marina de Porto Belo, principal referência da tão desejada chegada. Foi um turbilhão de emoções...
Quando chegamos na praia falatava menos de 1 km, olhei pra frente e vi meu esposo vindo ao nosso encontro, desabei no choro, fiquei muito emocionada... emocionada principalmente por pensar que ele ficou por quase 8h torcendo e esperando pacientemente por minha chegada. Obrigada amor, nem tenho palavras para agradecer...
Mais alguns metros e pronto, a prova estaria concluída. Era tanto tempo em movimento que parecia que nunca mais chegaríamos. Mas dobramos a última esquina e lá estava o portal. Cruzamos a linha de chegada de mãos dadas comemorando muito nossa conquista.

Me classifiquei em 20° no geral feminino (59 concluintes) e 6° na categoria 30/39 anos. Foram 7h47:29 de esforço, de luta psicológica e de vontade de alcançar meu objetivo.



Tão importante quanto um físico treinado, é uma mente forte e segura.
"Você vai precisar suportar...", frase muito usada quando o assunto é ultramaratona. E tenho que admitir que faz todo sentido... Durante esse desafio foi realmente preciso suportar o sofrimento e desejar profundamente cruzar a linha de chegada.
Que essa tenha sido a primeira de muitas ultras aventuras, que eu possa viver outros momentos como este e que continue encontrando anjos pelo meu caminho. Anjos que nem sempre usam asas para voar, mas sim tênis para correr...


Um agradecimento especial:
Danilo Pinheiro, pelo apoio fundamental.
Minhas amigas ultras, pela parceria e companheirismo.
Sérgio Coan, pela parceria através da Academia Just Gym e Grupo de Corrida Just Gym (Thiago Silva).
Adriano Bastos Treinamento Esportivo pelo treinamento até aqui.
Agradeço também aos amigos e familiares que torcem por mim, em especial meu esposo Almir, que tanto me apoia nessas aventuras, amo-te. Muito obrigada!!

Indomit Costa Esmeralda Utra-Trail deixou saudade. Deixou um gostinho de quero mais. E quando a sensação é essa, pode ter certeza que tudo valeu a pena!!!!!!
Que venha 2016!!!

7 comentários:

  1. Respostas
    1. Muito obrigada, Fabrício!!
      Agradeço também bela visita no blog e por deixar um recadinho tão carinhoso!!
      Grande abraço.

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  2. Que lindo Simone! Emocionante o seu relato! Fique sabendo, que és inspiração!! Um dia chego lá! Beijão...

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    1. Oi, Joice!!
      Poxa, muito obrigada pelo carinho. Fico feliz que tenha gostado do texto e que de alguma tenha te inspirado.
      Torço por você, por sua evolução e com certeza conquistarás teus objetivos pois és dedicada e esforçada.
      Beijão, obrigada pela visita!!

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  3. Si Querida!!
    Que ultra mais linda. Que relato mais emocionante. Admirável!
    Sigo te admirando ainda mais. Parabéns lindona. Senti toda emoção ao ler suas palavras. Emoção impar. Que 2016 seja ainda mais especial. Só coisa boa... beijos
    Helena

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  4. Ohh Helena.. você que me emociona com seu carinho ginastesco. Muito obrigada amiga!!
    Tentei transmitir através das palavras todas as emoções que vivi naquele sábado. Muitas coisas ficaram por dizer, mas o texto já estava longo... Em resumo foi isso mesmo, sofrência das boas kkk
    Ano que vem já tem desafio agendado, Maratona dos Perdidos, espero trazer boas notícias, espero trazer mais um texto vibrante para meus amigos queridos que tanto torcem por mim.
    Beijão Helena, até breve!!

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  5. Choreii, muito bom o seu relato e muito inspirador. Farei meu primeiro Indomit nos 21km, mas o objetivo é um dia completar os 50km tb. Sei que ainda tenho muito chão pela frente (literalmente), treino há apenas um ano, mas ler relados como esse me deixa muito motivada. Parabéns pela garra e pela força.

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